Boas práticas de IA para o jornalismo: documento da Galícia

O Colégio de Jornalistas Galegos acaba de publicar um documento muito útil para profissionais e redações que se preocupam com a incorporação de soluções de inteligência artificial à prática jornalística: um informe junto com um decálogo de boas práticas.

A publicação aponta para dois imperativos categóricos: a IA deve ser considerada instrumento e não fonte de informação; e os produtos derivados de IA precisam de supervisão humana. Riscos, impactos e vieses são as grandes preocupações externadas, mas o debate merece aprofundamento e participação. Embora os documentos valham apenas para uma pequena região da Espanha, há questões que se aplicam também ao jornalismo brasileiro.

O assunto vai longe…

IA, jornalismo e política

Nesta entrevista que dei para o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, abordo alguns desafios da adoção da Inteligência Artificial pelo jornalismo, preocupações éticas e alguns perigos com a assimilação desatenta de certas ideologias, como o tecnosolucionismo.

A entrevista foi gravada em novembro de 2025 no CECS, que fica em Braga e é uma das principais referências em pesquisa na área em Portugal.

Para assistir, siga o link: Nesta entrevista que dei para o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, abordo alguns desafios da adoção da Inteligência Artificial pelo jornalismo, preocupações éticas e alguns perigos com a assimilação desatenta de certas ideologias, como o tecnosolucionismo.

A entrevista foi gravada em novembro de 2025 no CECS, que fica em Braga, e é uma das principais referências de pesquisa em Portugal.

Para conferir a entrevista, siga o link: https://www.media.cecs.uminho.pt/video/gEz/entrevista-rogerio-christofoletti/

Prêmio de melhor pesquisa aplicada em jornalismo

Ainda não pus as mãos no troféu porque só retorno ao Brasil em algumas semanas, mas meus amigos mandaram fotos e é uma belezinha o Prêmio Adelmo Genro Filho de Pesquisa Aplicada 2025. Para saber tudo dessa história, veja aqui.

Jornalistas catalães atualizam seu código de ética

No começo do mês, um congresso do Colégio de Periodistas de Cataluña aprovou uma nova versão do Código de Ética da categoria. O evento discutiu a atualização do documento, incorporando temas como combate à mentira, uso responsável de IA, e cuidados com as imagens em tempos de emergência climática.

A (sempre excelente) revista La Marea fez uma síntese das mudanças no código, e o documento original em catalão pode ser acessado aqui.

Ética na investigação e integridade acadêmica: conferência em Coimbra

Nesta sexta-feira, 14, estarei na Universidade de Coimbra para uma conferência sobre ética na pesquisa e integridade acadêmica. O evento é um convite do professor Carlos Camponez, com quem colaboro há mais de uma década e que ainda me dá a honra de ser um amigo.

Embora a fala seja dirigida a estudantes da pós-graduação, o evento é aberto a todas as pessoas que se preocupam com protocolos de cuidados éticos na coleta e interpretação de dados científicos, na publicação de resultados e devolutiva aos participantes.

Se estiverem por perto, venham mais perto!

Ética, qualidade e credibilidade no jornalismo: conferência em Braga

A convite da professora Madalena Oliveira e dos colegas do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, estarei na quinta-feira, 13, na Sala de Atos para falar um pouco das relações que vejo entre ética, qualidade e credibilidade no jornalismo.

A conferência é gratuita e aberta a todas as pessoas que se interessam pelo assunto. Da minha parte, será um prazer conversar. E ainda por cima rever queridos amigos…

Ética na pesquisa e integridade acadêmica: curso online

A Universitat de València vai oferecer uma formação especializada para pesquisadores, gestores, membros de comitê de ética e professores que se interessam por pesquisa e inovação responsável.

O curso é online, com aulas síncronas, e em espanhol. Vai tratar de temas como ética na pesquisa, fraudes acadêmicas e mercado editorial predatório, responsabilidade e construção de uma cultura de integridade acadêmica, entre outros. As aulas serão de 2 de dezembro a 29 de janeiro, em dias específicos e num bom horário para quem está no Brasil: das 13 às 16 horas.

Duas coisas importantes: as inscrições vão até 18 de novembro e as vagas são limitadas.

Outras informações podem ser consultadas neste site
Se se interessar mesmo, aqui está o formulário de inscrição!

Comunicação, Ética e IA: um livro

Acaba de sair “Comunicação, Ética e IA: Diálogos sobre desafios e perspectivas na era digital”, livro que organizei com Carlos Camponez e Juan Carlos Suarez Villegas.

A obra reúne 16 textos de pesquisadores de Espanha, Itália, Portugal, Brasil e Uruguai que se debruçam sobre os desafios éticos de uso e adoção da inteligência artificial, e de dilemas contemporâneos na comunicação. Publicados em seus idiomas originais (inglês, espanhol e português), os textos são inéditos e foram selecionados a partir dos debates da 8ª edição da Media Ethics Conference, que aconteceu em 2024 em Coimbra.

Como escrevemos na apresentação do livro, não é difícil entender porque a IA é um dos temas da atualidade. “Bots e sistemas (pretensamente) autónomos capturam a nossa atenção com a mesma intensidade que apresentam incertezas sobre os riscos e os impactos que causarão no mundo do trabalho e na vida social”.

O livro se junta a outros esforços para tentar compreender o que alguns consideram ser um divisor de águas na história da humanidade. “A solução não é perguntar à inteligência artificial como este livro discute a ética aplicada, a moralidade e as transformações nos processos comunicacionais. Sobre este e outros assuntos da ética dos média são autores humanos que respondem”.

É o vigésimo livro que escrevo ou organizo, e ele tem um sabor especial porque trabalhei com dois queridos amigos e parceiros dos últimos anos. A vida é trabalho, mas também reserva espaço para a amizade e o respeito.

“Comunicação, Ética e IA” foi editado pela UMinho e pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), tem 367 páginas, e pode ser baixado gratuitamente aqui.

Universidades espanholas pedem: jornalistas só com diploma!

Uma notícia aqui da Espanha ajuda a fortalecer a luta global pela valorização da profissão jornalística.

O governo local está alterando a lei de sigilo profissional, e 50 universidades se manifestaram publicamente pedindo que sejam reconhecidos como jornalistas só aqueles que tiverem diplomas em jornalismo ou comunicação.

É claro que alguns patrões chiaram, mas quem sabe o Conselho de Ministros acolhe o pedido e a exigência de diploma se torna a regra por aqui?…

No Brasil, Fenaj e sindicatos de todo o país estão em mobilização permanente para que a Câmara aprove uma Proposta de Emenda Constitucional que resgate a exigência de diploma para o exercício da profissão, uma condição que foi sepultada pelo STF em junho de 2009. A PEC já foi aprovada pelo Senado.

Saiba mais sobre a PEC do Diploma neste site.

Confiança na mídia não está em queda (já sabíamos disso!)

Os consultores Luba Kassova e Richard Addy afirmam neste artigo que a confiança na mídia não está em queda; ela, inclusive, cresce. Os autores revisam pesquisas recentes para mostrar que o cenário não é tão ruim quanto alguns costumam pintar.

Na verdade, já sabíamos disso, né?!

Até escrevemos um capítulo em nosso livro sobre credibilidade jornalística. O título do capítulo – que assino em companhia de Kalianny Bezerra, Raphaelle Batista e Natália Huf – dá uma dimensão do que interpretamos dos dados: “Crise de credibilidade do jornalismo: porque devemos questionar essa ideia”.

Quer ler? Baixe o livro inteirinho de graça aqui: https://insular.com.br/produto/credibilidade-jornalistica/

Vencemos o PAGF 2025 de pesquisa aplicada!

Nosso projeto Índice de Credibilidade Jornalística – ICJOR – venceu o Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Pesquisa Aplicada! O prêmio é o maior reconhecimento da área no país, e coroa um trabalho de três anos envolvendo dezenas de cientistas de cinco universidades públicas brasileiras!

Para saber mais sobre o ICJOR, visite o site do projeto.

O prêmio será entregue em novembro, em Ponta Grossa (PR), durante o 23º Encontro Nacional de Pesquisadores de Jornalismo.

Violência contra jornalistas em Santa Catarina: um debate

O Portal Desacato promoveu um debate muito importante e urgente nesta semana sobre os ataques que sofrem os jornalistas catarinenses que ousam fazer seu trabalho com crítica, independência, ética e responsabilidade. Amanda Miranda e Marcelo Lula contaram suas experiências mais recentes de perseguição nas redes, assédio judicial, xingamentos, cancelamentos e ameaças. Fazer jornalismo não é fácil, mas em alguns lugares, como em Santa Catarina (um santuário bolsonarista) é mais difícil.

Comissões de ética e o aperfeiçoamento do jornalismo

Nesta semana, publiquei um artigo no Observatório da Imprensa sobre como as comissões regionais de ética, ligadas aos sindicatos, podem contribuir para o aperfeiçoamento contínuo da profissão jornalística.

O texto traz algumas ideias sobre a necessidade de criarmos no país as condições para uma formação permanente para jornalistas, e que também leve em consideração as preocupações com a ética na prática.

Os desafios são muitos, e é claro que eu não tenho respostas e soluções para muitos deles. De qualquer forma, dei meus dois centavos sobre a questão.

Leia o texto na íntegra em: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/etica-no-jornalismo/293152/

A condenação de Bolsonaro nas capas dos jornais

O julgamento mais importante da democracia brasileira declarou culpados Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, Anderson Torres, Almir Garnier, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Alexandre Ramagem e Mauro Barbosa Cid.

Golpe de Estado e abolição violenta do estado de direito foram os principais crimes das sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, e elas variaram de 2 anos a 27 anos e 3 meses. Pela primeira vez, foram julgados publicamente um ex-presidente da República e militares de alta patente, contrariando um passado de tolerância e impunidade nacional.

O Brasil ressignificou uma emblemática data no calendário e o 11 de setembro de 2025 será lembrado de outra forma a partir de agora.

Veja as capas dos principais jornais do dia seguinte.

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Fux, Hübner Mendes e uma lição para jornalistas

O extenso e acrobático voto do ministro Luiz Fux no julgamento mais importante da democracia brasileira traz lições sobre política, retórica, psicologia e até doutrina jurídica. Se nós – os mortais que nada sabemos de Direito – ficaremos semanas discutindo isso, imagine quem entende do assunto… mas um efeito direto da performance de Fux me chamou mais a atenção, e ela funciona como uma aula de jornalismo.

Estou falando da coluna do professor Conrado Hübner Mendes na Folha de S.Paulo: Já ganhei aposta com Fux

O autor é um conhecido crítico de regalias, privilégios e desvios das cortes brasileiras, e ele sabe o que diz porque é da área. Já até escreveu livro reunindo textos sobre o tema. Mas a coluna do dia em que Fux falou por mais de 13 horas ajuda tanto a entender traços da mentalidade do ministro quanto a como exercer uma crítica contundente, elegante e segura. Lançando mão do que parecem ser elogios, o colunista vai mostrando ao leitor detalhes da conduta pessoal do ministro que não são motivos de orgulho. Enfileirando atitudes que parecem positivas, o colunista revela que generosidade e seriedade esfarelam diante de uma leitura mais ampla da cena.

Leia com calma o texto de Hübner Mendes. Perceba como suas frases lustram o busto de Fux e expõem trincas no mármore. Se precisar, leia em voz alta para perceber o jogo de palavras e sentidos, o encadeamento de ideias e a clareza do raciocínio. Note como ele exerce a crítica de forma dura, mas não apela para xingamentos ou desaforos. E perceba ainda que ele faz sem subir o tom, sem desafinar a voz ou irritar nossos ouvidos. Sobra pouco ou quase nada para a fúria pretensiosa dos advogados do ministro.

Há mais de 25 anos dou aulas de jornalismo, e em todos os semestres tento convencer os alunos dos limites éticos e jurídicos da profissão. E nesse tempo todo aprendi que é difícil para qualquer pessoa equilibrar liberdade e responsabilidade, e para jovens que nasceram no caldo das redes sociais, mais ainda. Parece que lá tudo pode. Mas a realidade se impõe, e logo eles percebem como é difícil denunciar sem acusar, relatar sem distorcer, descrever sem exagerar, criticar sem xingar. Há sempre um fantasma na redação: o processo judicial. Ninguém com uma dose moderada de juízo quer ser processado pelo que escreve…

Costumo dedicar uma aula inteira com orientações para fazer jornalismo desviando-se dessas ameaças e caso elas apareçam, o que se deve fazer. Gasto muito tempo e energia para mostrar alguns caminhos possíveis, e nem sempre me faço entender ou sou ouvido. Sempre conto com o auxílio de alguns colegas. Sem saber, desta vez, o professor Hübner Mendes me ajudou muito nesta tarefa.

Vem aí mais um seminário do objETHOS

No próximo dia 26 de setembro, o Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) marca seus 16 anos de existência com mais um evento de referência: o seminário Jornalismo, Democracia e Liberdade de Expressão.

São dois painéis com especialistas que acontecem no Auditório Elke Hering na Biblioteca Universitária da UFSC:

  • Jornalismo, democracia e liberdade de expressão: regulação das plataformas e desafios à profissão, com Letícia Cesarino e Jacques Mick (ambos da UFSC), mediação de Vanessa Pedro.
  • Jornalismo e o futuro da democracia: como cobrir governos de extrema-direta?, com Katia Brembatti (Abraji) e Mateus Vargas (Folha de S.Paulo), com mediação de Marco Britto.

Mais informações no site do objETHOS.

Musk matador de passarinho

O Twitter sempre foi minha rede social favorita. Sempre.

Ágil, rápido e com API aberta, tinha cara de breaking news e de rádio-corredor. Era único nisso, embora nunca tenha se tornado uma rede com mais de um bilhão de usuários. Nunca chegou perto disso. Mas era a rede dos jornalistas, dos políticos, das pessoas que pareciam ter o que dizer (mais que mostrar) e das pessoas que tinham um humor ligeiro e inteligente. O Twitter foi isso. Era isso.

O tom do parágrafo anterior (e os verbos no passado) têm um jeitão de obituário, e é de propósito. Faz tempo que o Twitter deixou de ser o que era, sendo ultrapassado por concorrentes e encolhendo na sua importância e influência.

Fui um usuário frequente por vários anos numa primeira vez e excluí minha conta quando fiz um detox de redes. Voltei em julho de 2018 e desde janeiro de 2025, não posto mais nada por lá. Fui para o Bluesky – que não é a mesma coisa -, mas me mantém entretido em alguma rede. Funciona como aqueles adesivos de nicotina para quem quer parar, sabe? Minha decisão de largar o Twitter aconteceu porque não tive mais estômago com a guinada do site à ultradireita, os acenos de Elon Musk ao nazismo, e o chorume que vertia de forma espessa na minha timeline. Mudaram o nome, e eu nunca deixei de chamá-lo de Twitter. Mudaram os algoritmos de distribuição de conteúdos e escancaram as portas para o esgoto, e tudo isso me fez bem mal. Mental e emocionalmente. Apesar disso, respirei e pude me dar ao luxo e dei um tchau. Mas nunca perdi ele de vista.

Recentemente, li “Limite de Caracteres”, livro de Kate Conger e Ryan Mac, sobre como o Twitter foi vendido e como seu comprador acabou com o site. Os autores cobriram tudo isso para The New York Times, entrevistaram uma centena de fontes, mergulharam em um oceano de documentos e oferecem um relato rigoroso, detalhado e muito perturbador. Já sabíamos que o comprador era infantilóide, egóico, mimado, temperamental e vaidoso. Mas ele também se mostra autoritário, mimado, instável, paranoico, imperial; autocentrado, incapaz de lidar com críticas e avesso a ouvir pessoas. Nas quase 500 páginas do livro, ele não é só o homem mais rico do mundo, mas também um personagem vingativo, mesquinho, e arrogante. Do tipo que faz demissões em massa às vésperas do pagamento de bônus para os empregados, justamente para não ter que honrar com esse compromisso. Do tipo que dispensa sem qualquer crise de consciência mulheres grávidas, em licença maternidade e pessoas que dependem do trabalho para manter seus vistos.

As decisões apressadas, mal pensadas e inesperadas de Musk foram minando o Twitter dia-a-dia. Seus frequentes recuos e mudanças repentinas também. O desrespeito aos usuários, anunciantes e empregados era a tônica da relação do dono com seu brinquedo. Nem os investidores que o ajudaram a arrematar a fatura foram poupados.

O Twitter foi sangrando nas finanças e se deteriorando rapidamente como a sonhada praça pública. Liberdade de expressão se confundiu com capricho. Debate público tornou-se ambiente de assédio, bullying e violência. Musk foi o menino malvado que não soube apanhar o passarinho que caiu do ninho. Na sua ânsia de tê-lo só para si, esmagou o bicho. Para sempre.

PS – Sim, excluí minha conta do Twitter mais uma vez. Pelo jeito, foi a última.

Fritz Müller, uma biografia

Vem aí a biografia do cientista que mais reuniu dados pra confirmar as teorias de Darwin! O brasileiro que mais publicou na Nature! Um sujeito que foi político por poucos dias e quase morreu fuzilado numa revolução.
O jornalista Evandro de Assis explica melhor quem foi Fritz Müller, o intelectual mais importante de Santa Catarina no século 19.
Livro em pré-venda e já garanti meu exemplar. Apoie também!

Bolsonaro e sua accountability autoritária

A democracia não se resume à eleição de representantes e à repartição de poder. Há mais coisas sobre a mesa, e uma delas é a prestação pública de contas por autoridades. A coisa tem nome de difícil tradução – accountability -, mas de fácil entendimento: quem exerce uma função ou cargo público precisa dar satisfações a quem tem o poder mais supremo: a população, o eleitorado, o povo.

Enquanto era presidente da República, Jair Bolsonaro não convocava entrevistas coletivas, não tolerava coberturas críticas nem questionamentos. Seu governo não foi conhecido por sua simpatia por transparência e abertura. Nas quintas-feiras à noite, ele até fazia suas lives no YouTube, simulando se dirigir à população sem intermediários, mas falando apenas o que queria sem nenhum contraponto ou perguntas mais delicadas.

Danilo Rothberg, professor da Unesp, eu, e Fernando de Oliveira Paulino, professor da UnB, chamamos a estratégia de Bolsonaro de Accountability Autoritária, e escrevemos um capítulo sobre o tema. Saiu agorinha no livro Understanding Accountability: New Perspectives on a Fractured World, organizado por Mathew Flinders, Gergana Dimova e Chris Monaghan (Ed. Routledge). Saiba mais aqui.

Erro jornalístico ou fake news?

Acaba de sair mais uma edição da Rumores, revista da USP especializada em crítica de mídia.

Assino com a professora Lívia de Souza Vieira (UFBA) o artigo “Erro jornalístico ou fake news? Tensões técnico-conceituais no ecossistema digital”, que aborda um tema que nos preocupa há anos!

Acesse grátis: https://revistas.usp.br/Rumores/article/view/236338

 

Alfabetização midiática: um dossiê

A revista Eco-Pós acaba de publicar um dossiê completíssimo sobre alfabetização midiática. São mais de 400 páginas com artigos, entrevistas e resenhas, e mais 200 com conteúdos sobre outros assuntos. Você pode acessar a edição completa aqui.

Eu colaboro com o dossiê com um artigo em que proponho um programa de news literacy fundamentado em crítica de mídia e em ética jornalística. O artigo acaba juntando um punhado de ideias minhas acumuladas nos últimos 25 anos, a partir das minhas experiências com observação e crítica do jornalismo e com pesquisas sobre ética jornalística. Se interessar, vá direto ao artigo.

O dossiê tem uma capa caprichada, edição cuidadosa e é um excelente material para docentes, comunicadores e todas as pessoas que se interessam por este importante tema.

Qual o limite para jornalistas correrem riscos?

Na Espanha, a fiscalização do trabalho impôs uma multa de 50 mil euros a uma rede de televisão pública por expor seus repórteres a riscos durante a cobertura do gravíssimo desastre socioambiental que matou mais de 200 pessoas em Valência, em outubro de 2024.

A denúncia de abuso partiu dos próprios trabalhadores através de seus sindicatos e a cadeia À Punt foi penalizada, conforme conta El Diario.es.

Para cobrir as fortes chuvas e enchentes, repórteres cinematográficos saíram às ruas sem os necessários equipamentos de segurança, e repórteres ficaram expostos a riscos inéditos até então. Outros episódios escancararam a precariedade das condições de trabalho dos jornalistas locais.

De maneira cínica, a emissora de TV argumenta que ninguém pediu para os profissionais se arriscassem, mas o debate lembra que ninguém também impediu ou zelou pela segurança dos empregados. Falaram mais alto as imagens de impacto, o alarma social, a exploração exaustiva de uma tragédia coletiva. O caso ressuscita velhas perguntas que rondam as redações: que notícia vale uma vida? Até onde se pode arriscar para conseguir imagens e informações exclusivas? Quem é responsável pela segurança dos jornalistas?

Comunicação e democracia: no Brasil e na Alemanha

Acaba de ser lançado pelo selo Cultura Acadêmica, da Editora da Unesp, o livro “Communication and Democracy in Brazil and Germany”, que reúne capítulos de pesquisadores dos dois países abordando temas do momento como responsabilização da mídia, sistema público de comunicação, direito à informação, acesso à internet, proteção de dados, transparência pública, educação midiática, liberdade de expressão, desinformação, sustentabilidade, credibilidade jornalística e gamificação informativa.

A obra é resultado de um projeto de pesquisa financiado pela Capes e DAAD com cientistas da UFSC, UnB, Unesp e TU Dortmund University, que – durante quatro anos – permitiu estudos comparativos e a mobilidade acadêmica desses profissionais. Editada em inglês e organizada por Danilo Rothberg, Fernando Oliveira Paulino, Rogério Christofoletti e Susanne Fengler, o livro tem 306 páginas e pode ser baixado gratuitamente neste link.

10 coisas que aprendi numa viagem a Angola

Passei uma semana em Luanda e região, e como informação nunca é demais quando se vai para um destino desconhecido, lá vão alguns conselhos que ninguém pediu, mas que podem ser úteis…

  1. Abandone a ideia de encontrar algum guia de viagem: varri livrarias, bibliotecas públicas e lojas online e não encontrei um título sequer sobre Angola. Fiquei meses procurando e nada. Um absurdo já que existem editoras internacionais especializadas nesse tipo de livro e que Angola é um importante país no sul da África. É sempre muito bom levar um guia numa viagem porque facilita a vida, mas desta vez, fiquei sem. Esse vácuo pode desencorajar o viajante, mas insisto: vá a Angola! Conheça o país e faça também o seu manual de sobrevivência a partir disso…
  2. Não se assuste com as filas da imigração: elas são longas e você vai conhecê-las logo que sair do avião, pois o serviço de imigração está ao lado da pista do aeroporto. Mas calma. Os agentes costumam ser rápidos, e se você tem passaporte brasileiro, nem precisa de visto.
  3. Não esqueça da vacina e dos remedinhos anti-malária: brasileiro não precisa de visto para entrar em Angola, mas tem que apresentar comprovação de que tomou vacina de febre amarela, e é muito recomendável que – antes de viajar – comece a tomar remédio para evitar malária. Ninguém quer ficar doente fora do país, certo? Então, também não facilite. Procure o serviço médico ou posto de saúde para cuidar dessas providências antes de fazer as malas.
  4. Resolva câmbio e internet já na chegada: há várias operadoras de telecomunicações no país e a oferta de internet tem sinal estável e funcional. Você pode comprar um chip no aeroporto e pode fazer recarga de créditos, conforme o uso e o período em que ficará por lá. Aproveite e faça troca de moeda, pois é importante ter dinheiro em espécie pois nem sempre se aceita cartão de crédito. Quando estive em Luanda – em meados de maio de 2025 -, 1 dólar equivalia a mil kwanzas. Prepare-se para carregar maços de dinheiro, a depender do seu padrão de gastos.
  5. Esqueça o busão: na região metropolitana da capital angolana, não se pode dizer que haja um sistema convencional de ônibus, como se encontra em outras cidades pelo mundo. Também não tem metrô. Então, você tem algumas opções: a) aventurar-se nas milhares e nem sempre seguras vans brancas e azuis (os candongueiros); b) apelar para o transporte local por aplicativo (que nem sempre aceita sua corrida); c) contratar um taxista para te atender por alguns dias. Optei por este último e foi ótimo: o motorista conhece todos os caminhos e atalhos, dirige com segurança no trânsito peculiar, te dá dicas locais e pode ser uma boa companhia para quem viaja sozinho.
  6. Abuse do filtro solar: Pedro Bial nunca esteve tão certo. Use filtro solar sem economia, mesmo nos dias nublados, e opte por fator 50 ou mais alto. Se encontrar opções com repelente de insetos, melhor ainda.
  7. Preste atenção no trânsito: esta dica vale para todos os lugares do planeta, mas Luanda tem suas particularidades. Quando estive por lá, não vi semáforos funcionando, e nem guardas orientando o fluxo. É bom guardar fôlego para atravessar as ruas e olhar muitas vezes antes disso. Filas duplas e triplas são comuns nas avenidas mais largas, e a sensação de que se está num caos é permanente. Se você for dirigir, deus te ajude. Se não for, aproveite para observar dois fatores muito interessantes: a cidade é a mais democrática do mundo quando o assunto é preferencial. Todas as pessoas e veículos parecem ter direito a preferencial e eles fazem uso desse direito. É um milagre que o tráfego funcione. Mas ele funciona. Segunda coisa interessante: em uma semana de observação, não vi nenhum acidente de trânsito e nenhuma briga. Os angolanos usam pouco a buzina – se comparados aos brasileiros – e nunca parecem se estressar com a demora, com os fura-filas e com gente que esquece de dar a seta. É uma experiência antropológica de civilidade em meio a um aparente inferno…
  8. Esteja preparado para o número 2: Por mais que a gente evite comer coisas suspeitas de fornecedores desconhecidos, é possível que seu organismo estranhe algum alimento ou bebida. O calor é implacável e ele atua sobre nós… Cuidar de higiene e limpeza é necessário até mesmo nos mais sofisticados destinos turísticos. Mas não se admire se o chamado da natureza se impuser e ameaçar a tranquilidade da sua viagem. Carregue consigo água mineral e álcool em gel, e sempre leve um pouco de papel higiênico ou toalhinhas umedecidas. Não encontrei banheiros públicos em Luanda, mas mesmo banheiros em restaurantes e bares podem não estar preparados para te receber, se é que você me entende…
  9. Guarde dinheiro para os achaques no aeroporto: não é incomum que pessoas te abordem oferecendo para carregar malas, facilitar entradas em locais ou atendimentos personalizados. Essas pessoas geralmente parecem funcionárias do aeroporto ou de serviços turísticos. Às vezes, até são, e vão te pedir para “deixar um cafezinho” ou “um agrado”, depois de tanta cortesia. Vi, pelo menos, quatro abordagens do tipo em poucas horas antes de retornar.  Esteja preparado para deixar alguns kwanzas pelo caminho.
  10. Prepare-se para um banho de simpatia: de maneira geral, os angolanos são simpáticos e bem humorados, afáveis e corteses, prestativos e muito respeitosos. São também acolhedores. Brasileiros costumam se sentir em casa no país por se identificarem com personalidades tão humanas e cordiais. Conversar com os locais e escutá-los com genuína curiosidade são as melhores experiências que se pode trazer de uma viagem por lá. Há muito o que aprender com eles…

Um congresso sobre ética e IA

Começa hoje em Sevilla e na internet o IA Ethics, primeira edição do congresso internacional sobre ética e regulação da inteligência artificial. O evento vai até sexta, 30, e reúne pesquisadores de diversas partes do mundo preocupados com regramento de sistemas, legislação, códigos de boas práticas, desenvolvimento tecnológico humanizado e toda a galáxia que ronda esse advento tão disruptivo.

Participo do evento apresentando a comunicação “IA e responsabilidade jornalística: apontamentos para a regulação no Brasil”.

Informações gerais sobre o evento podem ser encontradas aqui.

Este blog faz 20 anos hoje

Vinte anos é muito ou pouco?

A resposta a esta pergunta não importa muito quando se trata da idade de um blog. Isso mesmo. Este espaço aqui completa vinte anos hoje e foi uma vida e um piscar de olhos. No dia em que surgiu, blogs eram a grande novidade na internet a tal ponto de alimentar a ideia de que blogueiros substituiriam jornalistas. Isso não aconteceu por completo, e os blogs foram paulatinamente dando lugar às redes sociais, que se mostraram mais aconchegantes, interessantes e viciantes.

Hoje em dia é fora de moda manter um blog, mas eu não ligo. De diversas maneiras, isso me manteve por aqui. Às vezes, o post era um desabafo, noutras uma forma de guardar impressões, e em outras ainda uma forma de registrar coisas que eu fazia ou faria. O fato é que o blog está aí, menos ativo que antes – é verdade! -, mas não totalmente abandonado.

Sem querer, este blog acabou se tornando um misto de site profissional e diário pessoal, funcionando como a página em branco de um pouco do que vivi. Eu posso dizer sem exagerar que os últimos vinte anos foram os mais felizes da minha vida: formei uma família, me realizei profissionalmente, ganhei o mundo, conheci muita gente boa e passei por momentos que são inesquecíveis também porque deixei escrito em alguma parte por aqui.

Se isso servir para mais alguém além de mim, já será algo…

O que os jornalistas brasileiros pensam sobre credibilidade?

A Brazilian Journalism Research (BJR), revista da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR), acaba de publicar o artigo “Credibilidade no cotidiano profissional: percepções de jornalistas brasileiros”, que assino com Denise Becker. O texto está disponível em português e inglês e é um dos resultados do projeto “Índice de Credibilidade Jornalística: formulação de indicadores de fortalecimento do jornalismo para o combate aos ecossistemas de desinformação (ICJOR)”. O artigo deu um trabalhão pois colhemos 446 respostas de jornalistas das cinco regiões brasileiras tentando mapear o que eles pensam e sentem sobre credibilidade e confiança na mídia.

O jornalismo espanhol e o apagão

fazia imaginar que alguma coisa terrível estava acontecendo na Europa: ciberataque dos russos para sinalizar para as fragilidades da UE, atos terroristas pulverizados pelo continente e o início da Terceira Guerra Mundial… felizmente, nada disso.

Mas eu fiquei particularmente curioso para ver como o jornalismo espanhol lidaria com um evento tão impactante como esse. Resumo o que percebi em quatro tópicos rápidos:

  • Como na pandemia e em outras crises, o radinho de pilha “salvou” muita gente. Soube que em Portugal, o item esgotou rapidinho nas lojas de Lisboa, Porto, Coimbra e até Aveiro. Na Espanha, 62% da população recorreram ao aparelho para se manter informada, revelou pesquisa do Centro de Investigaciones Sociales (CIS) ontem. As rádios públicas foram muito elogiadas;
  • Assim que a energia foi religada, as emissoras de TV montaram programas com comentaristas discutindo o assunto até ninguém mais aguentar. Isso não é bem uma novidade por aqui porque os espanhóis adoram uma tertúlia, e fazem esses programas de debates sobre tudo (da alta do preço do azeite ao fim do contrato do governo para comprar balas de Israel). Depois de dias, as mesas redondas esbarraram na grande interrogação do evento: o que aconteceu, afinal? Os especialistas estavam exaustos e os jornalistas não sabiam mais como fazer as mesmas perguntas.
  • Passada uma semana ainda não foram divulgadas as razões do apagão. O governo cobra a resposta das empresas energéticas, o parlamento cobra do governo, a imprensa e os cidadãos cobram de todo o mundo e ainda nada. A pauta não vai esfriar tão rápido…
  • Fazer a edição do dia seguinte ao apagão foi um desafio inédito para muitos jornais. Soledad Alcaide, a ombudsman de El País, contou em sua coluna os malabarismos que a equipe fez para dar conta do problema: repórteres se deslocaram a pé – pois o trânsito nas maiores cidades estava caótico sem os semáforos; todos priorizaram o uso dos telefones fixos, que ainda estavam em operação; colunistas entregaram seus textos diretamente na sede do jornal; para manter a atividade no prédio foram acionados geradores de energia movidos a gasolina; para economizar a pouca energia dos geradores, foram desligadas lâmpadas e aparelhos de ar condicionado; as impressoras só rodaram porque ainda tinha combustível nos geradores; e diferente da pandemia – quando foi priorizado o home office -, a equipe optou pelo trabalho presencial, o que mostra como redações ainda são importantes e funcionam como bunkers de resistência do jornalismo. A ombudsman avaliou que o jornal reagiu bem à crise porque acionou o seu Plano Meteorito, um protocolo interno para continuar a produção, mesmo em condições muito adversas. O plano tem esse nome porque o nível mais grave de cenários é justamente a queda de um objeto espacial na sede em Madri e sua total destruição. Achei bacana. Mas me diga aí: você conhece quantos meios de comunicação que têm um planejamento desse tipo?

Guardar para publicar depois: questões éticas

Jornalistas não publicam tudo o que sabem. Pode parecer chocante, mas é verdade, e nem sempre isso é um problema.

Como tem acesso a muitas informações, o repórter precisa escolher, filtrar, selecionar o que precisa ser comunicado, deixando coisas de fora. Como tem acesso a muitas fontes de informação e nem todas querem ser identificadas, o repórter precisa adicionar algumas camadas de camuflagem para manter o anonimato dessas pessoas, inclusive por questões de segurança. Deixar de publicar também é um ato jornalístico, pois faz parte da profissão.

Mas e quando o jornalista guarda uma informação para publicar quando é da sua conveniência? Uma repórter que cobre os bastidores da política pode separar casos, versões, revelações para escrever um livro depois, reservando para si furos de reportagem?

As respostas não são fáceis, e Sophia Scolman trata disso nesse artigo para o Center for Journalism Ethics da Universidade de Wisconsin-Madison. Vale a leitura e não custa pensar sobre.

Quando descobrem seu diário pessoal

Sem mais nem menos, meu filho descobriu este blog. E também sem qualquer motivo decidiu mergulhar nas postagens dos últimos vinte anos. Sim, esse espaço vai completar vinte anos em maio, e isso é uma vida. Quase a vida toda do meu filho que está fuçando por aqui em busca de coisas novas e velhas.

Deve ser muito intrigante para pessoas da geração dele saber que alguém mantém um museu pessoal por tanto tempo. Pra falar a verdade, eu nunca pensei também que isso fosse tão longe. Quando ele foi criado, ter um blog era a grande novidade da internet. Aliás, naquela época se perguntava se blogueiro era jornalista e quais eram seus limites e dilemas éticos.

Houve até uma era de ouro dos blogs, e ela se tornou tão distante quanto a mesozoica. As redes sociais ajudaram a sepultar muitos blogs e alguns ainda podem ser encontrados por aí como túmulos esquecidos com flores apodrecidas. Tento manter isso para armazenar registros, guardar memórias e ser gozado pelo meu filho quando ele encontra algo que envelheceu rápido, um erro de avaliação ou uma besteira qualquer. Ainda estou aqui. Não sei até quando. Mas quem é que sabe?